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Festival Futurama 2023
Construir novas memórias

A segunda edição do Festival Futurama volta a colocar o Baixo Alentejo no centro da criação artística contemporânea. Com uma programação estreitamente conectada com o território local, num diálogo com diferentes comunidades (artística, estudantil, desportiva, migrante e cigana), são vários os artistas portugueses das artes visuais, da música e das artes performativas que tomam o território do Baixo Alentejo para o desafiar criativamente.

Mais do que preservar a memória, importa criar novas memórias. O Futurama aponta a sua missão nessa direção, propondo uma recentralização da criação artística contemporânea a partir do Baixo Alentejo. O Festival Futurama aposta na criação artística original, com novos projetos que acabam de nascer e se abrem ao olhar do público pela primeira vez, alguns ainda em processo, fazendo-se valer do tempo e das condições oferecidas para desenvolver processos, outros já finalizados, mas todos com um vínculo ao território e às populações de Mértola, Castro Verde e Beja. 

A artista visual Jacira da Conceição está a desenvolver uma exposição fotográfica e de cerâmica em Beja, que parte da sua experiência como mulher negra no território e de um diálogo com o ceramista Isaclino Palma. Estendendo a relação com a comunidade cigana do Bairro das Pedreiras, a coreógrafa Clara Andermatt dirige um workshop de dança. Com uma abordagem entre a arquitetura e as artes visuais, o Colectivo Til tem desenvolvido, através de uma residência artística em Castro Verde, uma intervenção no Parque da Liberdade com a participação da comunidade skater. Artista bejense, Roxana Ionesco desenvolve a sua segunda criação teatral, questionando tradições e origens, entre Portugal e a Roménia, a sua terra natal. O jornalista, dramaturgo e encenador Rui Catalão inicia um processo de entrevistas junto da comunidade migrante de Beja que dará lugar ao texto de “Mal de Ulisses”, revelando o retrato de um país a emergir e outro a desaparecer. Através da ação de pedir diretamente aos espectadores para dizer determinadas frases, a peça de Lígia Soares, “Romance”, propõe a participação do público para experimentar a apropriação, a identificação e a diversão. Eu próprio tenho estado a desenvolver uma criação performativa com os jovens atletas do Clube Náutico de Mértola, a ser estreada no Cais de Mértola. Já um dos projetos-chave do Futurama, o Cantexto, volta aqui a ter a sua estreia mundial, com três concertos, em Mértola, Castro Verde e Beja, dando a conhecer as novas palavras que os sete autores portugueses Joana Bértholo, Richard Zimler, Regina Guimarães, Ondjaki, Isabela Figueiredo, Afonso Cruz e Marta Pais de Oliveira escreveram para os sete grupos de cante alentejano Rosinhas do Loredo, Cantadores de Beringel, Ceifeiras de Pias, Grupo Coral e Etnográfico de Vila Nova de São Bento, Cardadores da Sete, Grupo Coral da Mina de S. Domingos e Grupo Coral da Vidigueira, respetivamente, resultado de um processo cuidado de composição musical dirigido pela Ana Santos, Celina da Piedade e Paulo Ribeiro.

Com uma atenção particular ao empoderamento criativo e crítico de diferentes comunidades, a dimensão inter-geracional está espelhada nesta programação. Os mais jovens e os mais velhos, entre artistas emergentes, como Roxana Ionesco, artistas com percursos consolidados e outros com experiências de toda uma longa vida, como o nonagenário Mestre Isaclino e alguns dos elementos dos grupos de cante alentejano do Cantexto. Esse foi também o desejo expresso pela comunidade dos jovens Embaixadores Futurama, que este ano conta com o artista Gustavo Ciríaco como parceiro de ideias: a de um maior entrelaçamento entre gerações e de uma oferta cultural atenta a diferentes segmentos de público. O Festival Futurama atravessa não só gerações de artistas e públicos, como atravessa geografias do Baixo Alentejo, as suas comunidades, e atravessa linguagens artísticas, numa celebração partilhada ao longo de três fins de semana.

Num diálogo intrínseco entre a educação e a criação artística, que constitui um rol de atividades desenvolvidas ao longo do ano em diálogo com escolas de ensino locais, o projeto Artistas nas Escolas levou o artista transdisciplinar João Pedro Fonseca a desenvolver uma criação audiovisual e performativa com uma turma do Instituto Politécnico de Beja / Escola Superior de Educação, a artista visual Mafalda Matos foi até Castro Verde para criar com uma turma da Escola Secundária de Castro Verde uma instalação e performance, e a dupla Ana Borralho e João Galante estreiam com uma turma da Escola Secundária Diogo Gouveia a performance “Mundos Interiores”, processos desenvolvidos ao longo do ano e partilhados ao público no âmbito do Festival Futurama.

O apoio dos nossos parceiros locais, como a Câmara Municipal de Mértola, de Castro Verde e de Beja, assim como os apoios do Ministério da Cultura / Direção-Geral das Artes, da Fundação Millennium BCP e da Direção Regional de Cultura do Alentejo, permitem uma 2ª edição do Festival Futurama que investe na construção de novos olhares e novas memórias no Baixo Alentejo.

– John Romão
Diretor artístico

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